Parashá Haazínu (האזינו) – 2024/5785

Parasha Cantico de Moises

A Parashá Haazínu (האזינו) – “inclinai os ouvidos” – corresponde ao texto de Deuteronômio 32:1-52, onde Moisés, no último dia de sua vida, entrega ao povo de Israel um cântico profético. Este cântico resume a trajetória de Israel e contém advertências severas sobre a apostasia futura, além de promessas de redenção, caso o povo volte ao caminho de Deus. Mais do que um poema, é uma profecia de grande alcance que prevê as consequências da desobediência e a esperança de redenção por meio do Messias.

O Cântico de Moisés: Um Aviso Profético

O cântico de Moisés é apresentado no final do Pentateuco, e seu teor é tanto histórico quanto profético. Moisés convoca os céus e a terra como testemunhas:

“Inclinai os ouvidos, ó céus, e falarei; e ouça a terra as palavras da minha boca.” (Deuteronômio 32:1)

Aqui, Moisés não fala apenas ao povo de Israel, mas também ao cosmos, um recurso literário que intensifica a importância de suas palavras. Este é um dos momentos mais solenes da narrativa bíblica, onde Moisés, consciente de sua iminente partida, alerta Israel para as consequências de sua infidelidade. Ele lembra os atos maravilhosos de Deus, Sua fidelidade, e os contrasta com a ingratidão e rebelião do povo.

Deuteronômio 32:5 resume bem essa infidelidade: “Procederam corruptamente contra ele, já não são seus filhos, e sim suas manchas; geração pervertida e deformada.” A apostasia prevista por Moisés é uma consequência direta da recusa do povo em seguir os caminhos de Deus.

A profecia aponta para um ciclo de desobediência, punição e eventual restauração. Isso ecoa outras passagens bíblicas, como em Deuteronômio 4:30-31, onde Deus promete que, mesmo na dispersão, Ele não abandonará completamente Seu povo:

“Quando estiveres em angústia, e todas estas coisas te sobrevierem, nos últimos dias, e te converteres ao Senhor teu Deus, e lhe deres ouvidos, então o Senhor teu Deus não te desamparará, nem te destruirá.”

A Conexão com o Messias: O Cântico de Moisés e o Cântico do Cordeiro

O caráter profético do Cântico de Moisés é confirmado no Novo Testamento, especificamente no livro de Apocalipse. Em Apocalipse 15:2-3, João relata uma visão do céu em que os vencedores da besta, de sua imagem e do número de seu nome entoam tanto o cântico de Moisés quanto o cântico do Cordeiro:

“Vi como que um mar de vidro, mesclado de fogo, e os vencedores da besta, da sua imagem e do número do seu nome, que se achavam em pé no mar de vidro, tendo harpas de Deus; e entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: ‘Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações!’” (Apocalipse 15:2-3)

A menção ao Cântico de Moisés e ao Cântico do Cordeiro no Apocalipse reforça a continuidade do plano redentor de Deus. Moisés, que liderou o povo de Israel da escravidão no Egito até às portas da Terra Prometida, profetizou sobre a desobediência futura, mas também anunciou a redenção final. O Cordeiro, que é o Messias, será o agente dessa redenção completa.

A redenção que Yeshua (Jesus) trará ao povo de Deus é o cumprimento das palavras proféticas de Moisés. Como João Batista anunciou em João 1:29, Jesus é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.” Este é o ponto culminante do plano de salvação, onde o Cordeiro, pela Sua obediência e sacrifício, realiza o que Moisés profetizou: a redenção do povo de Deus.

O Ciclo de Apostasia e Restauração na História de Israel

Apostasia e restauração são temas recorrentes na Bíblia. O Cântico de Moisés destaca o ciclo contínuo de queda e redenção de Israel. Isso pode ser visto claramente nos livros dos Juízes e dos Reis, onde Israel repetidamente se afasta de Deus, é punido, clama por misericórdia e é restaurado. Por exemplo, em Juízes 2:11-19, o povo se afastou de Deus, adorando os Baalins, e, como resultado, foi entregue nas mãos de seus inimigos. No entanto, sempre que clamavam a Deus, Ele enviava juízes para salvá-los.

Esse ciclo culmina na promessa messiânica de um Redentor definitivo, um libertador que não só salvará Israel, mas toda a humanidade. Moisés, ao falar da apostasia e das consequências, aponta para uma restauração mais abrangente, uma que transcende as limitações da antiga aliança e se cumpre plenamente em Cristo.

O Caráter Pactual do Cântico

Outra característica fundamental do Cântico de Moisés é seu caráter pactual. Moisés constantemente lembra o povo da aliança estabelecida no Sinai. Ele destaca a fidelidade de Deus e a infidelidade de Israel. A linguagem do cântico reflete a estrutura das alianças antigas, onde bênçãos e maldições são prometidas de acordo com a obediência ou desobediência.

Deuteronômio 32:43 declara: “Cantai, ó céus, com ele, e adorem-no todos os filhos de Deus; pois vingar-se-á do sangue dos seus servos, tomará vingança dos seus adversários e fará expiação pela sua terra, pelo seu povo.”

Este verso finaliza o cântico com uma promessa de justiça e restauração, um tema que ecoa nas promessas escatológicas do Novo Testamento. A restauração final não é apenas para Israel, mas para toda a criação. Como Paulo escreve em Romanos 8:21, “a própria criação será libertada do cativeiro da corrupção para a liberdade da glória dos filhos de Deus.”

O Cântico do Cordeiro: A Redenção Final

A menção ao “Cântico do Cordeiro” em Apocalipse é de grande importância. O Cordeiro, que foi sacrificado pelos pecados do mundo, agora é celebrado como o vitorioso sobre o mal. Os que entoam o cântico no céu são aqueles que venceram, não por suas próprias forças, mas pelo sangue do Cordeiro, como descrito em Apocalipse 12:11: “Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram.”

Essa vitória é o cumprimento final do que Moisés profetizou em seu cântico. A restauração prometida a Israel é expandida para incluir todas as nações, como João descreve em Apocalipse 7:9, quando ele vê “uma grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas.” Essas são as pessoas redimidas pelo Cordeiro, que entoam o cântico de Moisés e do Cordeiro em um só coro, unindo a antiga aliança à nova em um momento glorioso de redenção final.

Conclusão

O Cântico de Moisés em Deuteronômio 32 e sua menção em Apocalipse como o Cântico do Cordeiro nos oferecem uma visão poderosa da continuidade do plano de Deus. A canção, inicialmente um aviso de julgamento e apostasia, se transforma em uma mensagem de esperança e redenção por meio de Yeshua, o Cordeiro de Deus. Estudar o Cântico de Moisés é estudar o próprio coração da narrativa bíblica: a fidelidade de Deus e Seu desejo de redenção, culminando no Messias, que tira o pecado do mundo e traz a vitória final sobre o mal.

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